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Dia 'D' para PSD. Militantes resolvem hoje incógnita: Santana ou Rio?

Militantes do Partido do Social Democrata (PSD) decidem hoje que líder querem ter à frente do partido.

Dia 'D' para PSD. Militantes resolvem hoje incógnita: Santana ou Rio?
Notícias ao Minuto

08:03 - 13/01/18 por Melissa Lopes

Política Diretas

Chegou o dia ‘D’ para o PSD. Os militantes do principal partido da oposição escolhem este sábado o sucessor de Pedro Passos Coelho: De um lado, Pedro Santana Lopes, de outro, Rui Rio. No final do dia, um destes homens vai ocupar o lugar de líder do partido que está em suspenso praticamente desde as eleições autárquicas, quando Passos Coelho tomou a decisão de não se recandidatar à liderança do partido. A decisão final está hoje nas mãos de 70 mil militantes social-democratas.

O caminho percorrido até aqui, desde outubro, foi longo e com  algumas polémicas à mistura. Foi, disse Rio no final do último debate na quinta-feira, “uma maratona”, um percurso “desafiante” de grande "mobilização" interna. 

Fazendo um balanço da campanha levada a cabo por Santana Lopes e Rui Rio, o politólogo José Adelino Maltez comenta, em conversa com o Notícias ao Minuto, que esta foi uma campanha muito “doméstica”, “muito para o interior do partido”.

“Nós estamos fora e, portanto, não somos capazes de dizer quais são as consequências disso, em termos de mobilização de militantes e de distribuição do voto pelos dois candidatos”, afirma, assinalando que o PSD terá um triunfo caso tenha mais militantes votantes do que teve o Partido Socialista (PS) na eleição de António Costa, no plano interno. “Se o PSD ultrapassar os 25 mil militantes, acho que é um objetivo mínimo, é um triunfo do partido no seu todo”, considera o especialista.

No plano da distribuição do voto pelos dois, Maltez entende que as sondagens que foram sendo feitas são sondagens para a opinião pública e que é “extremamente difícil” saber quem levará vantagem. “Daí o aliciante de uma votação democrática, estamos todos à espera e não damos palpites”. "Mesmo aqueles que são muito conhecedores do terreno estão numa incógnita”, refere.

Notícias ao MinutoMilitantes escolhem o sucessor de Pedro Passos Coelho© Global Imagens

O 'enfant terrible' moderado vs o 'meio alemão' das contas bem feitas. E agora, PSD?

Para o politólogo e professor universitário, tanto Santana Lopes como Rui Rio foram pouco autênticos nos debates, isto porque, acredita, “ouviram muito os conselheiros” e os “homens do marketing”, ao invés de agirem conforme a sua “natureza”. Talvez tenha sido por isso que os debates tenham sido “fracos”. “Fraquíssimos”.

“Utilizaram uma retórica um bocado passadista, não apareceram com grandes novidades”, comenta Maltez, trazendo à baila os ‘truques’ usados por um (no primeiro debate) e denunciados por o outro que acabou por usar os mesmos ‘truques’ (no segundo debate). “Acabaram por empatar”, analisa, defendendo que os dois primeiros debates televisivos serviram para “consolidar uma imagem”.

O politólogo considera que Rio “está um bocado fora destes esquemas de comunicação televisiva", onde Santana leva vantagem, e que precisa de “desenferrujar um bocado”. No entanto, o antigo provedor da Santa Casa “não esmagou Rio”. “Estão os dois antiquados”, atira.

O jogo argumentativo dos dois não “é muito entusiasmante”, diz Maltez, exemplificando com uma situação em que Santana “tenta dar lições de economia e finanças a um homem que é economista e financeiro”. “Outro não está bem conhecedor dos modelos do Estado de Direito e da Administração. Nesse sentido, foi negativo. Quem quer ser primeiro-ministro de Portugal, tem de ter uma visão mais dinâmica de questões de macro-políticas.

Maltez entende que os dois falharam e que não teriam uma boa nota. “Não quer dizer que chumbassem, ficavam ali pelo suficiente mais”. Traduzido para notas, de 0 a 20, o politólogo atribui-lhes nota 13. Até é bom. “Não, Portugal precisa de tipos com 18, pelo menos”.

Mas, então, o que é que os diferencia [além dos pontos que cada um defende nas moções estratégicas]? Na opinião de Maltez, é o estilo. “Um tenta vender uma imagem de ‘enfant terrible’ que se tornou moderado e o outro tenta fugir do conceito do homem da agenda com contas bem feitas, meio alemão, para um tipo que é capaz de fazer os seus jogos de retórica”. E, no final da campanha, “ficaram os dois a meio terreno”.

“Acabaram por ficar numa situação um bocado incaracterística, apesar de meterem nesse terreno, um a tocar bateria e outro a dizer que comprou um piano”, ironiza, lamentando a falta de “agilidade quando entram na revelação da sua psicologia e da sua personalidade” e a “venda de uma imagem”. "Podia haver uma ultrapassagem desta ditadura do marketing político, ficaram presos, não criaram coisas novas”, enfatiza.

“Resta saber quais são as vantagens para o país e para a democracia portuguesa, a pior coisa que nos podia acontecer é continuar este vazio de comando do principal partido da oposição e um benefício aparente para o PS que não tem tido PSD com estabilidade e projeto há muitos meses”, finaliza o politólogo.

Um, dois, três debates: Entre "trapalhadas" e "truques", venham os militantes e escolham 

Depois da apelidada ‘saga dos debates’, dos 22 propostos, os dois candidatos acabaram por defrontaram-se três vezes, na RTP, na TVI e na rádio (TSF/Antena 1). O primeiro debate, na estação pública, arrancou a todo o gás com divergências e quezílias quanto ao passado de cada um. Rio acusou Santana de “trapalhadas” quando esteve no cargo de primeiro-ministro, entre 2004 e 2005. O anterior provedor da Santa Casa utilizou a estratégia de ‘colar’ Rio ao atual primeiro-ministro, António Costa.

"Dupont e Dupont és tu e o doutor António Costa", disse, tornando-se este um soundbite que marcou o primeiro debate. O frente a frente na RTP ficou também marcado por recortes de jornal, uma arma usada por Santana que  ‘sacou’ de uma fotografia do momento em que Rio almoçara na Associação 25 Abril, numa altura em que Passos andava a ‘salvar’ o país, acusando o ex-autarca do Porto de traição ao partido.  As críticas à Procuradoria-Geral da República por parte de Rio, no primeiro debate, abriram caminho à polémica que marcou a semana. Estará, ou não, Joana Marques Vidal de saída em outubro? Para Marcelo, o "tema não existe". Pelo menos, por enquanto.

No segundo debate, na TVI 24, foi a vez de Rui Rio mostrar alguns recortes de jornal, tentando provar, assim, que o seu oponente também criticara, no passado, o PSD e Pedro Passos Coelho. Neste segundo confronto televisivo, o passado foi quem mais presente esteve, à imagem do que aconteceu no primeiro debate. 

A campanha fez-se também muito à volta de cenários hipotéticos de governação. Rio admitiu viabilizar um eventual governo minoritário do PS para retirar PCP e Bloco de Esquerda da "esfera do poder", salientando que sempre foi essa a tradição democrática antes da atual solução governativa. Sobre este ponto, Santana recusa apoios ou acordos com qualquer executivo liderado por António Costa, dizendo que terá de ser o PS a restaurar a prática constitucional de "quem ganha eleições governa".

Notícias ao MinutoSão mais de 70 mil os militantes chamados a escolher o novo líder do PSD© Global Imagens

No duelo final, na Antena 1 e TSF, conduzido por Maria Flor Pedroso e Anselmo Crespo, acabou por predominar um registo mais contido. O debate centrou-se, desta vez, mais no presente, tendo as "trapalhadas" ficado guardadas na mala de cada um dos dois. Miguel Relvas, que deu uma entrevista ao Público onde afirmou que Rio e Santana seriam líderes a prazo de dois anos, alimentou uma parte do debate. Referindo-se a Relvas, Rui Rio criticou os militantes que se "escondem debaixo da mesa"

Porém, estava reservado para o final da noite de quinta-feira o tema que acabou por encerrar 'com chave de ouro' a campanha das eleições diretas do PSD. Pacheco Pereira afirmou, no seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias, que Santana o havia convidado, em 2011, para formar um novo partido com o intuito de concorrer contra o PSD. Alegações sobre as quais Santana foi obrigado a reagir. "Chegámos ao cúmulo da anedota", disse, referindo-se ainda a Pacheco como um militante que, "apesar de escondido, apoia a candidatura de Rui Rio". Rio também comentou o assunto: Santana "andava ansioso por ter ali um debate com o doutor Pacheco Pereira. E eu estava a ver que acabava a campanha e ele não conseguia o debate, lá conseguiu o debate”.

As eleições diretas vão decorrer entre as 14 horas e as 20h00, em 396 mesas de voto distribuídas em Portugal continental, Açores, Madeira, Europa e fora da Europa. Ao 'alinhamento de tropas'  traçado no começo, juntou-se Luís Montenegro, que disse que irá votar em Santana dois dias antes das diretas. Sendo estas eleições internas, e sendo o universo de votantes superior a 70 mil militantes, é arriscado fazer prognósticos antes do jogo sobre qual será o desfecho. Uma coisa é certa, a incógnita deixará de o ser durante esta noite. Outra certeza é a do adeus a Pedro Passos Coelho à Assembleia da República, no final fevereiro. 

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